Viola Micaelense – Ecos dos Mestres…

A nossa Viola, na Região, no País, e pelos vários cantos do mundo por onde anda espalhada, teve e tem um importante papel na congregação de pessoas, na manutenção de tradições, proporcionando momentos de convívio, lazer e amizade, quer tocada a solo, quer acompanhando “balhos” ou dando a base musical para cantares de improviso.

Nos Açores é denominada, comummente, como Viola da Terra ou Viola de Dois Corações (em determinadas Ilhas). É um instrumento muito versátil, integrando vários agrupamentos musicais, onde pode ter uma intervenção distinta de acordo com cada contexto.

No entanto, e a meu ver, é na sua execução a solo, com modas de enorme diversidade melódica, muitas de elevado grau de dificuldade, que a Viola demonstra todas as suas capacidades e sonoridade para que foi construída.

Depois de ter editado, em 2018, o álbum “9 Ilhas, 2 Corações”, com 80 modas do Cancioneiro dos Açores, modas de todas as Ilhas, entendi ser de grande relevância a edição de um álbum dedicado aos Mestres da Viola da Terra da Ilha de São Miguel e ao importante espólio musical que nos deixaram ao longo de décadas.

A Viola é aqui interpretada a solo, em inúmeras peças, mas também aparece acompanhada por outra Viola (Viola acompanha Viola, dizia tantas vezes o meu Mestre Carlos Quental) e acompanhada ao Violão, naquelas que eram as suas formas mais puras de sobressair.

Agrupar, num único álbum, essa diversidade de modas, da “Aurora”, “Pezinho”, “Chamarritas”, “Sapateia”, à incontornável “Saudade”, numa execução baseada nas recolhas e registos de alguns dos mais conhecidos e reconhecidos Mestres da Ilha de São Miguel, é a oportunidade de deixar mais um registo e mais um contributo para um maior conhecimento e valorização da nossa Viola.

A escolha do repertório baseou-se em peças com características de execução mais complexas e mais desenvolvidas do que as habituais “modinhas” com estrutura de quadra e refrão, que temos em quantidade de largas centenas. Pretende-se, aqui, destacar aquelas composições que percorrem a escala da Viola, de uma ponta à outra, que “dobram” os bordões e ordens triplas da Viola, mas que também retinem os sons agudos.

Faltarão tantos outros, que nunca tiveram a oportunidade de ter o seu trabalho registado, e faltará ainda uma imensidão de modas que se perderam no tempo. Como homenagem a todos os que tocam as nossas Violas, em qualquer parte, com qualquer técnica ou afinação, integra este trabalho “O Tangedor”, dedicado aos Mestres da arte de Tanger (tocar) a Viola.

Pelo legado que nos deixam, pela sua importância e impacto, do passado e até aos nossos dias, surgiu a composição “Ecos dos Mestres”.

Temos uma enorme dívida de gratidão para com todos!

Rafael Carvalho, Maio de 2023.

1 - Tanchão - Baseado na versão de Miguel de Braga Pimentel | 2 – Sapateia – Baseado na versão de Edmundo Moniz Pimentel e Manuel Moniz Pimentel | 3 - Mouraria – Baseado na versão de Miguel de Braga Pimentel | 4 – Aurora – Baseado na Versão de Arsénio Machado da Silva e Manuel Cabral Gravita | 5 – Saudade - Baseado na Versão de Constantino Amaro e Libório Raposo | 6 - Pezinho Velho - Baseado na versão aprendida com Carlos Quental | 7 – Ecos dos Mestres – Rafael Carvalho | 8 – Chamarrita do Meio – Baseado na versão de Miguel de Braga Pimentel | 9 – Bela Aurora - Baseado na Versão de António Dias de Medeiros | 10 – A Malva - Baseado na Versão de José de Oliveira (Escola de Violas da Relva) | 11 – Chamarrita - Baseado na versão aprendida com Carlos Quental | 12 – O Tangedor – Rafael Carvalho | 13 - Balho da Povoação - Baseado na versão de Francisco Sabino | 14 – Fado da Noite e Fado Menor – Fado da Noite baseado na versão tocada na Ribeira Quente. Fado Menor baseado na versão de Miguel de Braga Pimentel | 15 – Balho Furado – Algumas das passagens baseadas em recolhas de tocadores da Ribeira Quente.