Os sons de um Trio

Há muito que o Rafael Carvalho assumiu a nobre missão de divulgar e valorizar a Viola da Terra, um dos mais identitários elementos da nossa cultura popular, suporte musical do nosso cancioneiro, e verdadeiro ícone da identidade cultural açoriana.

Nessa demanda, em 2016, convidou a Carolina e o seu violino, e o seu irmão César, exímio tocador de violão. Uma cumplicidade que os levou a subir a muitos palcos e partilhar a sua musicalidade com muitas audiências.

Ao longo dos últimos anos o Trio foi consolidando um vasto repertório e é parte dele que agora registam em disco, para marcar esta primeira etapa do seu percurso, deixando assim um sentido testemunho e um legado. Escolheram dez temas, dos muitos a que foram habituando os seus públicos e seguidores.

O CD inicia-se com a Cantiga Bailada (01), uma canção tradicional da Beira Baixa, popularizada pela Brigada Victor Jara, com arranjo de Rafael Carvalho, onde Violino e Viola da Terra dialogam em despique, em pergunta e resposta. Rema (02), do cancioneiro tradicional açoriano, traz-nos a dolência e a nostalgia dos ilhéus, condenados a remar num mar infinito. O Fado da noite (03), com arranjo de Rafael Carvalho e Ana Paula Andrade, é um choro em tom menor que se nos entranha, feito de tristeza e mágoa. Em Lundum (04), a melancolia persiste e vem numa cadência que aguça a emoção, nessa forma insular de sentir o contentamento descontente. Na Danza del Oso (5), um baile medieval em registo mais alegre, a Viola da Terra e o Violino dançam muito ligados, e sobressai o virtuosismo da nossa Viola, com os seus solos nítidos e bem ritmados, alternados com o violino, numa coesão resultante do arranjo de Rafael Carvalho. Rosinha dos Limões (6), o fado de Artur Ribeiro, chorado pelo violino e pela nossa viola que toma o lugar da guitarra portuguesa, transporta-nos às fatídicas paixões dos becos e das ruelas de Lisboa. A Chuva (7), o original de Jorge Fernando, já imortalizado pela voz de Mariza, aqui vem cantado pelo violino que é acompanhado por essa viola-guitarra de dois corações. A Dança dos Camponeses (8), de Carlos Paredes, é uma balada que se transforma em dança rápida e nos lembra as festas de verão em altura de colheitas. A Chamateia (9), canção de Luis Bettencourt com letra de António Sousa, é uma das mais populares canções açorianas da atualidade, aqui em mais um arranjo feito para o trio por Rafael Carvalho. Por fim, o El Açor (10), de Sérgio Ávila, já um clássico no repertório das tunas e também do programa do Trio, com o qual finalizam as suas atuações, para terminarem em tom maior e em ritmo alegre e acelerado.

O resultado final deste trabalho muito fica a dever a Emanuel Cabral, técnico da excelência do som, e em cujo estúdio foram feitas as gravações.

E assim foi… aos dois corações da Viola-da-Terra juntaram-se os corações do Rafael, da Carolina e do César e surgiu um disco acústico, instrumental, sentido…verdadeiramente Ex Corde.